- Trim trim trim!
Esse é o sonido chato de meu despertador, são seis da manhã e abrir os olhos está sendo uma árdua tarefa, mas o sol não pára de irradiar sobre meu corpo, que preguiçosamente se recusa a acordar. Só por um dia eu quero ser um vegetal, quero deleita-me no vazio e viver do ócio, quero ver o infinito e não ser nada. Eu não quero viver, não por hoje.
Hoje eu acordei decidido a não tentar interpretar o mundo, acordei querendo saber de mim e esquecer os outros. Mas como manipular essa minha sádica obsessão por gente? Gosto de risos, gosto de abraços, gosto de gestos, gosto das falas, gosto de opiniões. Preocupo-me em apenas esquecer, e quando se tentar não lembrar é a mesma coisa de recordar-se a toda hora.
Desengonçadamente surge um impulso às minhas vontades. Sinto o cheiro dela. Não sei exatamente a que distância, se está perto ou longe, mas tenho certeza, esse olor que se exala desordenadamente pertence unicamente a ela. Levanto-me, gradativamente, dedo por dedo, pé por pé.
Defronte ao espelho, não consigo me encarar. Ainda moço, boa aparência, mas essa moldura não pertence a mim. Sinto-me preso em minha própria masmorra, aprisionado por minhas certezas, cai no buraco negro de meus desejos.
Pressinto que ela se aproxima. Como eu a conheço bem! Havia decodificado até suas silenciosas pegadas. E ela vem, vem cantarolando minha música favorita, vem toda pra mim. É meiga, suave, delicada, astuta e me ama.
Pressinto que ela se aproxima. Como eu a conheço bem! Havia decodificado até suas silenciosas pegadas. E ela vem, vem cantarolando minha música favorita, vem toda pra mim. É meiga, suave, delicada, astuta e me ama.
O que me dói é saber que ela me ama, porque hoje, eu descobrir que não a amo mais, quero esquecer essa idéia, quero voltar a amá-la novamente, quero fazer de nós um só, quero não mais ser só eu e sim nós. Vou interpretar o nosso mundo, voltar a me apaixonar.
Ela entra, eu uso de todos os adereços para disfarçar minha nova descoberta.
- Amor?
Pronto! Bastava-me isso.