segunda-feira, 21 de março de 2011

Íntima ordem de comando


Espero. Espero, desesperadamente. De hoje não passará, meus planos vão, enfim, se soltar da acorrida prisão de minha mente. Ainda é sol de tarde e há tempo o suficiente para projetar o meu traçado especial. Será a mais bela e deliciosa astúcia.
Vou a caminho de um profundo banho, talvez o último de minha antiquada vida. Preparo a banheira, a decoro com rosas vermelhas, despejo o mais forte dos perfumes, apago as luzes e acendo velas. Desamarro o nó de meu roupão e ponho, delicadamente, meus pés na água quente e me banho.
Observo tudo. E me deparo com uma antiga fotografia, há nela um sorriso, um bom tempo, uma linda paisagem e um grande amor. Era como se aquela velha fotografia tivesse me ‘teletransportado’... Minh’alma saiu de meu corpo e fugira de minha mente. Ela sentira muito medo do que estava por vim, já que era ela a mira de todos os acautelados preparativos daquele fim de dia.
O que minh’alma sentia de verdade era medo da mudança, medo de não ser-la mais e, assim, perder toda aquela glória conquistada; medo de se perder de vista. Eu começo a indagá-la, ela se recusa a responder. Seu ego é possante e cala sua voz. Entretanto, ela desapossa de si um único susurro: “Se alguém me ler será por conta própria e por auto risco”... Eu insisto em indagá-la. Cansada, ela se rende e me confessa o que guarda:
- Vejo no reflexo d’água, a minha próxima moldura, a sucessora imagem que você quer criar a si... Uma terrível masmorra, um enorme desperdício de mim. Por que, me encobres do mundo assim?
         Em êxtase e inerte eu me encontrava. Era a primeira vez que ouvia a voz de minh’alma, e foi como um veneno, qual um dia eu teria que provar. O meu silêncio teria lhe fortalecido, estava mais sábia do que dantes. E eu a libertei.
         Lá fora já era noite e toda a astúcia que imaginara fazer, tornou-se um armadilha de minh’alma para absorve-me a ela. Agora, “aspiro a uma fusão de corpo e alma”.

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